
Como nasceu a Original 234
Tudo começou com uma fantasia.
Durante anos, acompanhei com entusiasmo o Gumball 3000 — um evento que é muito mais do que carros ou percursos. É uma celebração de liberdade, velocidade e estilo de vida. Milionários e bilionários de todo o mundo reuniam-se para dar a volta ao planeta ao volante dos supercarros mais exóticos, num ambiente de festa e adrenalina. Para mim, aquilo era como ver um filme a acontecer na vida real. Eu observava à distância e pensava: “E se um dia eu pudesse fazer algo assim… mas em Portugal?”
Comecei a imaginar percursos. A sonhar com curvas nas montanhas, com o som dos motores a ecoar pelas paisagens do Douro, com paragens em lugares elegantes mas autênticos, e com pessoas que partilhassem a mesma paixão pela condução. Mas a verdade é que sempre acreditei que isso era algo fora do meu alcance. Era um devaneio. Uma ideia bonita, mas irrealista.
Anos depois, numa conversa trivial com o meu sogro — um grande conhecedor e apaixonado pela Porsche — começámos a falar sobre a comunidade Porsche em Portugal. O que existia era pouco. Alguns encontros fechados, algumas voltas soltas, mas nada que realmente captasse o espírito Porsche: conduzir por prazer, descobrir novas estradas, partilhar experiências. Senti que havia ali um vazio.
Foi então que pensei: “E se eu desafiasse dois ou três amigos porschistas para fazermos um passeio? Só por diversão. Sem pressões.”
Escolhi a estrada que sempre me fascinou: a Nacional 222. Uma das mais belas do país — e, segundo muitos, uma das melhores estradas do mundo para conduzir. Publiquei num grupo de Facebook dedicado à Porsche, a perguntar se alguém conhecia e recomendava. A resposta foi esmagadora: toda a gente dizia que eu devia fazer. Que era uma estrada obrigatória.
Então lancei a ideia: “Vou fazer este percurso com o meu sogro numa certa data. Quem quiser, pode juntar-se.”
Achei que apareceriam meia dúzia de pessoas. Mas o que aconteceu a seguir superou tudo o que eu podia imaginar.
Recebi dezenas e dezenas de mensagens. Gente interessada. Gente entusiasmada. Gente que eu nem conhecia a perguntar se podia levar amigos, se havia inscrições, se ia haver mais eventos. Num instante, percebi que o que eu tinha lançado com tanta inocência estava a transformar-se num verdadeiro evento.
E eu, que nunca tinha organizado nem sequer um jantar de aniversário, dei por mim a montar algo que envolvia:
• Escolher o percurso ideal, curva a curva;
• Encontrar restaurantes com capacidade para dezenas de carros;
• Analisar zonas de paragem com espaço, beleza e segurança;
• Solicitar licenças, montar uma equipa de apoio e logística;
• Contratar fotógrafos e preparar tudo ao pormenor.
A dada altura, olhei para tudo aquilo e pensei: “Isto está a ficar sério.” E estava mesmo. Quando cheguei aos 130 inscritos, percebi que tinha nas mãos algo muito maior do que imaginava. Era uma comunidade a formar-se. Era uma vontade coletiva a despertar.
O dia do primeiro evento foi um turbilhão de emoções. Estava nervoso como nunca estive. Sentia uma responsabilidade enorme. Mas ao mesmo tempo, havia uma energia no ar, como se todos estivéssemos prestes a viver algo inesquecível. E vivemos mesmo.
As máquinas começaram a chegar de manhã cedo. O som dos motores, o brilho dos carros, os sorrisos das pessoas. Cada detalhe contava. Sentia-se o entusiasmo, mas também um certo orgulho no que estávamos a construir juntos. E como cereja no topo do bolo, tivemos a presença da TVI, que fez uma reportagem em horário nobre no Jornal da Tarde. Um momento surreal para quem, há semanas atrás, apenas queria dar uma volta com o sogro.
Foi nesse dia que tudo mudou para mim.
Descobri que a minha paixão por conduzir podia ser partilhada. Que havia outras pessoas como eu, que não compraram um Porsche apenas por status ou por estética, mas por aquilo que ele transmite quando se está ao volante: emoção pura, liberdade, conexão com a estrada e com o momento.
Descobri também que adoro organizar experiências. Que gosto de ver as pessoas felizes, surpreendidas, emocionadas. Que há algo de mágico em proporcionar dias que ficam na memória de quem os vive.
E assim nasceu a Original 234. Não como uma empresa qualquer. Mas como um movimento. Como um espaço onde a estrada é mais do que asfalto — é uma ponte entre pessoas que sentem, vivem e conduzem com alma.
Desde esse dia, a Original 234 cresceu. Tornou-se mais sofisticada, mais organizada, mais ambiciosa. Mas nunca perdeu a sua essência: proporcionar experiências únicas a quem ama verdadeiramente a condução.
E se no início isto era só um sonho… hoje é apenas o começo de uma viagem muito maior.